Melhores concertos do ano 2019 – JazzLogical
Longe de outros tempos em que tínhamos grandes concertos internacionais com regularidade, o ano de 2019 trouxe-nos, ainda assim, muitos e interessantes concertos. Curioso é que muitos dos grandes concertos aconteçam fora dos grandes centros, nomeadamente Lisboa e Porto e, ainda assim, nesta competição Lisboa fica a perder.
Mas se o número de concertos internacionais diminuiu, nunca em Portugal houve tantos e bons músicos e projectos interessantes. Entre os que saem das escolas nacionais ou internacionais e os que rompem com as escolas, os que procuram noutras músicas, no passado ou no futuro, a inspiração, ou os que partem para outras músicas, os caminhos são muitos e diversificados. Muitos projectos e caminhos padecerão talvez dos males da juventude, muitas vezes da pressa da juventude na afirmação, mas isso também faz parte do caminho. Mas hoje podemos constatar com segurança que temos uma cena fervilhante em Portugal, com grandes e sólidos músicos. A minha confiança no futuro do Jazz em Portugal não se baseia na esperança, mas na constatação, na observação, dos músicos que existem já hoje. Assim haja público e salas onde eles possam tocar.
A votação para o melhor festival de Jazz nacional é inútil. Pela dimensão, pela programação, pela produção e pelo público, o Guimarães Jazz afirmou-se de há muito o mais importante festival de Jazz nacional. Em nenhuma outra cidade de Portugal é possível ver num único festival Charles Lloyd, Rudy Royston, Joe Lovano, Vijay Iyer and Craig Taborn e a ICP Orchestra; Guimarães tornou-se desde há muito a capital do Jazz nacional.
Em segundo lugar estão os dois festivais insulares, o AngraJazz e o Funchal Jazz, de menor dimensão, mas de programação sábia. Refira-se que o AngraJazz teve em 2019, três dos melhores concertos nacionais (em oito, de entre aqueles a que assisti).
De referir o Seixal Jazz, que tem feito um esforço assinalável para entrar para este patamar (e a que lhe falta talvez uma programação consequente), e que eu gostaria que rapidamente a ele regressasse (de onde nunca deveria ter saído).
E ainda o novo Festival de Jazz de Lisboa, onde tudo é possível, e que eu gostaria também que se tornasse o Festival de Jazz de Lisboa.
Enfim, se Lisboa e o Porto não têm festival de Jazz, alguns pequenos festivais têm nascido, outros renascem, algumas salas fora de Lisboa ganham importância; a par da consagração de outros e outras, mas também os festivais de Loulé ou Marinha Grande, ou ainda outros, mais ou menos ortodoxos e irregulares, o Jazz em Agosto, o Jazz ao Centro ou o Caldas Nice Jazz têm trazido bons concertos. Outros ainda nasceram ou cresceram, programando músicos internacionais e nacionais, como o Jazz no Parque – Barreiro, o Amadora Jazz, o Jazz na Caixa (Famalicão), o Festival Robalo (Lisboa), e o histórico Jazz no Valado.
Que o Jazz em Agosto tem trazido grandes concertos, eu não tenho dúvidas. Admito que Ambrose Akinmusire, Mary Halvorson e Tomas Fujiwara (ou outros a que não assisti) tenham sido grandes concertos, mas a questão em torno do Jazz em Agosto é sempre que eles são programados não por serem concertos de Jazz (ou sequer bons projectos), mas por serem «diferentes». A irregularidade é a consequência da sua programação.
No campeonato dos festivais de Jazz nacionais os dois ganhadores são o Festival de Jazz do Valado e o Festival Porta-Jazz, de características diferentes (com algumas concessões mais «populares» no Valado, motivadas pelo público, e mais centrado nos músicos do norte, no caso do Porta Jazz), mas ambos de sólida programação.
Das salas de concerto haverá a referir o desaparecimento do já pouco fértil palco da Culturgest, os raros concertos do CCB, a continuidade do zero para o Theatro Circo de Braga, a Casa da Música com alguns concertos interessantes, o crescimento da importância do Auditório de Espinho, alguma actividade no Salão Brazil e uma ou outra sala sem programação consistente.
Em Lisboa, há a referir o divórcio definitivo entre a Festa do Jazz e o São Luiz, que deu origem ao Festival de Jazz de Lisboa com programação do Hot Club; e a Festa do Jazz que procura encontrar novo espaço na cidade. Espera-se que a Festa do Jazz prossiga e reganhe o espaço nacional que lhe é devido pelas suas características únicas, local de encontro de jovens músicos e troca de experiências.
Uma última palavra para o Hot Club, a «Casa do Jazz» desde há setenta anos, com programação regular e séria, com actividade e público, e por onde passam, mais cedo ou mais tarde, todos os músicos e projectos nacionais, e com alguma regularidade também, músicos estrangeiros. E como se sabe, actividade do Hot Club não se limita à organização de concertos.
O mais sério competidor é a sala Porta-Jazz que programa um único concerto semanal; importante, sem dúvida, mas muito pouco para a quantidade de bons músicos que o norte tem neste momento. O Porto precisa de um clube de Jazz…
Muito mais haveria a dizer sobre concertos e a actividade do Jazz nacional, mas esta minha página tem como motivo principal apresentar a minha votação dos melhores concertos em espaço nacional, com as reservas que apresentei acima, sendo certo que assisti a quase uma centena de concertos em 2019. Enquanto 15 críticos e divulgadores de jazz continuam a ouvir discos furiosamente, com vista à eleição dos melhores discos e músicos do ano, aqui vai a minha votação para os melhores concertos de 2019.
A selecção que apresento é pessoal, e os meus leitores deverão tomar em conta que, apesar de ter assistido a muitos concertos, também não assisti a muitos outros - possivelmente bons - que terão ocorrido, e que por diferentes razões não vi e ouvi, como alguns dos que aconteceram na Casa da Música, no CCB, no Jazz em Agosto, no Guimarães Jazz, no Jazz ao Centro, na Porta-Jazz, mesmo no Hot Club, sendo que assisti a outros, no CCB, no Funchal, em Guimarães, em Angra do Heroísmo, no Seixal, Barreiro, Amadora, Hot Club, e inúmeros outros locais.
Duas últimas notas:
1. Não me foi possível eleger um único concerto, até porque eles foram de índole muito diferente (por alguma razão as votações são por norma feitas por mais que um indivíduo), correspondendo à diversidade da música Jazz, pelo que a minha lista contém apenas dois níveis: os melhores e as menções honrosas.
2. Não será surpresa, mas nestas listas eu incluí quatro concertos de músicos e grupos nacionais. Nada demais, o mérito é deles.
MELHORES CONCERTOS DE 2019
Vijay Iyer/ Craig Taborn – CCB (Lisboa) 19 de Março
Coreto - «Analog» - Festival de Jazz de Lisboa 29 de Março
A/B Squared: Terence Blanchard – Funchal Jazz 12 de Julho
João Mortágua AXES – AngraJazz (Angra do Heroísmo) 4 de Outubro
Frank Kimbrough Quartet plays Monk – AngraJazz (Angra do Heroísmo) 4 de Outubro
Miguel Zenón «Sonero: The Music of Ismael Rivera» - AngraJazz (Angra do Heroísmo) 5 de Outubro
Peter Bernstein Quartet – Seixal Jazz 19 de Outubro
Rudy Royston «Flatbed Buggy» - Guimarães Jazz 15 de Novembro
MENÇÕES HONROSAS - CONCERTOS DE 2019
Branford Marsalis Quartet - «The Secret Between the Shadow and the Soul» - CCB (Lisboa) - 15 de Março
Jeff Williams «Lifelike» Festival de Jazz de Lisboa – São Luiz (Lisboa) - 30 de Março
Carlos Bica - 22º Festival de Jazz de Valado dos Frades – 8 de Junho
Ben Wendell Seasons Band – Funchal Jazz – 11 de Julho
Jacob Sacks piano solo – Robalo Jazz (Lisboa) – 16 Julho
Quarteto de Gonçalo Marques – Robalo Jazz (Lisboa) – 19 de Julho
Ralph Towner – Seixal Jazz – 23 de Outubro
Joe Lovano Tapestry Trio Com Marilyn Crispell e Carmen Castaldi – Guimarães Jazz – 13 de Novembro
João Mortágua AXES – Hot Club (Lisboa) – 13 de Dezembro
Ohad Talmor Newsreel Trio – Hot Club (Lisboa) – 19 de Dezembro